domingo, 27 de novembro de 2011

2011


Olá Pessoal,

O ano de 2011 terminou para mim em outubro quando conclui a última competição que estava programada. Foi um ano muito importante e de grandes realizações no que diz respeito às questões esportivas. Gosto sempre de fazer uma reflexão sobre os lados positivos e negativos de tudo que aconteceu para seguir melhorando e evoluindo sempre.

Começo sempre a temporada no ano anterior, em geral em dezembro. Gosto de passar a virada do ano já em ritmo forte de treinos e fazendo força.

Como faço em todos os anos selecionei apenas três competições para participar. Prefiro a qualidade do que a quantidade e mais que isso, gosto muito mais de correr por ai do que competir.

Iniciei o ano treinando muito bem e muito forte. Consegui subir bem o volume e a intensidade dos treinamentos que me deram um bom condicionamento.

A primeira competição foi em abril (Patagônia Run - 84 km) na bela e inesquecível cidade de San Martin de Los Andes. Um lugar mágico repleto de belíssimas paisagens. A competição foi muito dura devida principalmente as condições climáticas enfrentadas com temperaturas negativas em grande parte do percurso. Fiz uma excelente prova e aproveitei muito as paisagens que estarão em minha memória para sempre. Aproveitei também para fazer bons amigos e conhecer pessoas fantásticas além de degustar belos pratos da região.

Após a competição tirei alguns dias de descanso e retomei os treinos mudando um pouco o foco. Priorizando os treinos de subida e força visando competir na Super Meia Maratona de Extrema (24 km). Uma das provas mais duras do Brasil.

Fui para a competição em péssimas condições devido a uma forte gripe, mas não queria deixar de correr essa prova. Foi uma prova realmente dura com baixas temperaturas e fortes subidas. Durante a prova tive um pequeno momento de desatenção e acabei me machucando, mas segui em frente fazendo força e terminando bem a competição. Tive que ir até o hospital depois da prova para fazer um curativo, mas nada demais. Tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o George Volpão (grande corredor de montanhas) que sempre me dá forças e trocamos muitas ideias sobre corridas e qualquer outra coisa.

As semanas que se passaram após essa competição foram muito duras, pois a gripe se tornou uma sinusite e acabei ficando algumas semanas sem treinar. Foi um momento para decidir o que fazer no segundo semestre e aproveitei para me inscrever e correr novamente a Ultra Maratón de Los Andes na bela cidade de Santiago.

Iniciei os treinos em julho e consegui manter um bom ritmo, principalmente nas trilhas técnicas e com grandes desníveis. Para finalizar a etapa de treinamento fui para o Parque Nacional do Caparaó onde está localizado o Pico da Bandeira (Terceiro mais alto do Brasil). Fiz excelentes treinos de subida que me deram a confiança que precisava para a etapa final de treinos antes de seguir para terras chilenas.


Cheguei a Santiago nas melhores condições físicas e psicológicas que podia para enfrentar a prova de igual para igual com os grandes desta modalidade. Foram momentos duros e foi preciso manter o foco durante quase dez horas de competição. Consegui um excelente resultado e acima de tudo conheci muita gente e tive a oportunidade de conversar com grandes nomes deste esporte.


Após a competição me senti muito cansado fisicamente e psicologicamente devido ao grande acúmulo de treinos gerado ao longo ano e como não tinha mais nenhuma competição pela frente aproveitei para entrar de férias e descansar. É muito importante aceitarmos esse período. Foram momentos difíceis, pois muitas coisas aconteceram e acabei perdendo a motivação que ainda insiste em continuar.
Dos erros sempre surgem coisas positivas e aproveito o momento para refletir bastante sobre toda a temporada e buscar sempre o melhor.

Neste momento estou retomando os treinamentos e olhando para frente, pois 2012 já está começando...

Existem alguns projetos para a próxima temporada que serão discutidos e apresentados no momento oportuno!!!

Mensagem final: quando acordar com sono, preguiça, dias chuvosos e não quiser sair para correr lembre-se que a única maneira de alcançar os objetivos e sonhos é com perseverança e muita dedicação e acima de tudo fazendo aquilo com amor!!! Keep running!!!

Um forte abraço a todos!!!

domingo, 30 de outubro de 2011

Decisões

Preciso mais do que nunca me encontrar com as montanhas novamente para que elas me digam o que fazer... Preciso sentir o cheiro da terra e deslizar por trilhas e pedras para encontrar aquilo que talvez nunca tive!!!

Força, força e força!!!


sábado, 22 de outubro de 2011

Ultra Maratón de Los Andes 2011


Olá Pessoal

Segue abaixo um resumo da Ultramaratona de Los Andes corrida no último sábado dia 15 de outubro. Um prova muito especial para mim.

Cheguei a Santiago no dia 13 de outubro, peguei o kit da prova e passei os dias seguintes descansando...

No sábado acordei às 2h da manhã, me preparei e fui para o local da prova. A noite estava linda com uma lua maravilhosa e o céu estrelado. Cheguei ao local da prova, nas proximidades do Cerro Manquehue e procurei um local isolado para fazer a minha concentração final.

Neste momento fiquei pensando em tudo que tinha feito para chegar até ali. Todos os treinos passam pela cabeça, momentos de dificuldades, dores, sofrimentos, alegrias, tudo se mistura e aquele momento passa a ser mais que especial.

Momentos antes da largada comecei a imaginar como seria a prova... Ainda tinha certas dúvidas sobre o que fazer. Em geral costumo largar com calma e deixar que as coisas aconteçam de forma natural e assim vou seguindo e o resultado passa a ser uma conseqüência disto. Dessa vez era diferente. Tinha treinado muito mais e estava me sentindo bem e queria um pouco mais. Sabia dos riscos que iria correr caso optasse por sair com o pelotão da frente.

A grande diferença neste caso é que o pelotão vai ditando o ritmo e quem quiser que acompanhe e conhecia alguns atletas que ali estavam e que respeito muito pela história que já construíram nas corridas de montanha.

Era um momento difícil para mim, mas me lembrei de uma coisa muito importante e que carrego comigo em tudo que faço na vida. Não existe nada impossível, não existem limites. Tudo está em nossas cabeças. Nossos medos, nossas angústias, nossas frustrações. Tudo é produto da nossa cabeça. E nas corridas de montanha adoto outra palavra que se chama ATITUDE. Naquele momento a adrenalina começou a subir e decidi que iria arriscar tudo, mas em hipótese nenhuma “largaria o osso”!!!

As 4h da manhã em ponto foi dada a largada. Sai bastante forte junto com os primeiros atletas. Os primeiros quilômetros eram planos antes de iniciar a primeira subida. Neste momento o importante era me manter no pelotão da frente e abrir em relação aos demais. Depois de dois quilômetros começaram as primeiras subidas e tratamos de seguir correndo e fazendo força. Neste momento o grupo se quebrou e partimos definitivamente para a disputa da prova.

Gustavo Reyes (atleta Salomon de nível extraordinário e de uma simplicidade ímpar) começou a abrir mantendo o seu favoritismo. Em segundo estava eu e Martin Marato (um argentino muito legal que conheci neste momento). Logo atrás estava vindo alguns outros atletas que poderiam se juntar a nós em pouco tempo. Seguimos correndo morro acima e com mais alguns quilômetros já era possível avistar a bela cidade de Santiago ao longe. As subidas começavam a ficar cada vez mais duras, mas seguíamos em bom ritmo buscando abrir o máximo possível.

Depois de mais alguns quilômetros percorridos juntou-se a nós um grande atleta da The North Face (Rodrigo Canuto). Estava formado o trio que seguiria por vários quilômetros juntos.

Na madrugada anterior a prova havia chovido muito e o terreno estava com muito barro o que dificultava muito o deslocamento e aumentava os riscos de quedas. Pedras soltas, mato alto e certa dificuldade para seguir as marcações do terreno. Porém, nos ajudávamos o tempo todo e fazíamos um belo trabalho de equipe.

Passamos bem pelo primeiro posto de hidratação. Procurei comer alguma coisa rápida e seguir em frente. Fazíamos muita força e nas descidas nos soltávamos como loucos por aquela escuridão tendo como companhia uma bela lua. Estava frio, mas o ritmo era tão intenso que nem dava para perceber.

Depois de aproximadamente vinte e cinco quilômetros percorridos se juntou ao grupo John Tidd (atleta uruguaio bastante conhecido nas corridas de montanha e TOP20 este ano na Ultra Trail Du Mont Blanc) que trouxe com ele outro atleta que resolveu não ficar no pelotão e atacar. Neste momento ninguém quis fazer força para acompanhá-lo.

O dia começava a clarear e seguíamos em quatro pessoas tentando correr todos juntos e fazendo força. O ritmo não diminuía desde o início da prova e neste momento minhas pernas começaram a sentir o peso de andar em um grupo seleto como esse.

No plano e nas descidas eu conseguia acompanhar o grupo, mas nas subidas já começava a andar e pouco a pouco comecei a perder contato com os três (John, Martin e Canuto). Estava neste momento em sexto lugar. O sol começava a surgir ao fundo da bela Cordilheira do Andes. O céu estava limpo e era esperado um dia com muito calor.

Comecei a pensar no que poderia estar acontecendo e qual a melhor decisão a tomar. Tínhamos acabado de passar pelo quilômetro trinta e ainda teria muitas subidas pela frente. Começou a passar um filme na minha cabeça, pois as pernas não respondiam e isso em provas longas pode ser o fim. Sabia que tinha largado em um ritmo acima do que costumo praticar em provas deste tipo e estava certo de que se perdesse o pelotão mais alguns metros além de não recuperar mais poderia ser o meu fim. Em provas de resistência é preciso muito mais que força física para resistir aos momentos ruins. Pensei em desistir por alguns instantes. Mas algo me guiava e me mantinha vivo.

Naquele momento tenho que admitir que pensei em abandonar a prova mas ao mesmo tempo me lembrei que provas longas são assim mesmo. Existem momentos que te levam ao chão para testar seus verdadeiros limites.

Respirei fundo e tratei de seguir em frente. Com mais alguns quilômetros cheguei a mais um posto de hidratação. Neste momento Martin e John já estavam saindo e fizeram um grande ataque morro abaixo. Começaram a imprimir um ritmo muito forte. Canuto também não quis arriscar seguir com eles e de certa forma isso foi muito bom, pois agora estávamos juntos para seguirmos em frente.

Começava uma nova prova para mim... Partimos juntos morro abaixo nos ajudando na orientação do percurso e dos obstáculos. Enfrentamos uma descida muito dura e bastante técnica, mas estávamos bem. Depois de aproximadamente dez quilômetros avistamos Martin caminhando em uma pequena subida. Percebi naquele momento que ele não estava bem como aparentava momentos antes. Não foi preciso falar nada, apenas olhei para Canuto e passamos por ele sem muitas dificuldades.

A partir do km 42 iniciava uma temida subida e seguimos morro acima em uma longa e dura caminhada. A inclinação era grande e o terreno muito técnico. Aproveitei o momento para retirar e guardar a lanterna de cabeça, retirar os óculos de sol da mochila, hidratar e me alimentar.

Depois de alguns quilômetros comecei a perceber que Canuto estava ficando um pouco para trás. Estávamos juntos há muito tempo, mas neste momento era a sua vez de passar por dificuldades. Tentei animá-lo para seguir em frente fazendo força. Aos poucos ficava para trás. Ao chegar ao final da subida havia um posto de controle. Parei rapidamente para reabastecer minhas garrafas, comer algumas frutas secas e seguir em frente. Minhas pernas estavam doendo um pouco, mas já me sentia bem melhor e sabendo que neste momento estava na quarta posição a cabeça e o corpo reagiam de outra maneira.

Já passava dos km 50 e aproveitei uma pequena subida para retirar da mochila meu Ipod. Não gosto de correr ouvindo músicas, mas neste momento era preciso distrair a cabeça e o corpo. Sabia que mesmo estando naquela posição não podia aliviar em nenhum momento, pois alguém poderia surgir a qualquer momento e me surpreender. Não era possível ver nenhum adversário a frente e nem atrás, mas tinha que me manter motivado e controlando as dores, principalmente nas bandas e na coxa.

Iniciei uma longa descida muito íngreme e técnica. Era uma trilha com muitas pedras soltas e curvas fechadas ao longo de verdadeiros precipícios. Alguns trechos uma queda poderia ser fatal. Tratei de manter a concentração e atenção total em cada passada. À medida que descia a dor na perna aumentava e a preocupação começou a voltar. Estava com medo de não resistir àquela dor até o final da prova mantendo aquele ritmo alucinante. Acabava de passar pelo km 55 e ainda tinha muitas horas pela frente. Comecei a olhar para trás para ver se mais algum atleta se aproximava. Corria neste momento contornando um belo vale onde era possível ver o percurso a frente. Não consegui ver nenhum atleta e pensei em começar a administrar aquela posição para chegar até o fim da prova. A cabeça não estava boa. Não conseguia controlar as dores.
Segui um pouco mais tentando controlar o ritmo e ao observar o percurso percebi que o atleta que nos passou no início da prova estava indo à frente a uma distância aproximada de 2 km. É impressionante o poder da mente. Naquele momento tudo mudou. A vontade de seguir forte voltou. Comecei então a planejar como seria aquela aproximação. Tratei de me hidratar, alimentar e comecei a fazer força de novo tentando me aproximar. O atleta percebeu a minha aproximação e tentou também manter a distância, mas eu estava focado e naquele momento era a hora do jogo mental. Mesmo com tantas dores queria agora aquela posição. Afinal de contas era a chance de conquistar meu primeiro pódio em uma competição com atletas de altíssimo nível.

Ao me aproximar procurei aumentar o ritmo ainda mais e fazer um único ataque aproveitando a descida. O atleta me acompanhou um pouco, mas logo em seguida desistiu. Tratei de manter o ritmo o máximo que podia para abrir vantagem e conquistar definitivamente aquela posição. No final da descida cheguei a mais um posto de controle. Fiz tudo muito rápido e segui em frente tratando de manter a cabeça boa, com pensamentos positivos embora já estava a quase sete horas correndo no limite e isso gera um desgaste mental muito grande.

Ainda faltavam aproximadamente 20 km para a chegada e não podia pensar em colocação, dores, nada. Apenas seguir em frente rumo ao meu grande objetivo que é cruzar a linha de chegada.

Depois de mais alguns quilômetros entramos no Cerro San Cristóban para o trecho final da prova. Procurava olhar para trás para ver se alguém estava vindo. Estava mais preocupado neste momento e suportar as dores e manter a minha posição que seguir fazendo força rumo ao desconhecido. Seguia a minha frente os atletas Gustavo Reyes em primeiro e John Tidd em segundo.

Foi o final de prova mais difícil que já fiz. Em geral nos finais de prova meu corpo está sempre cansado, mas consigo manter a mente em bom estado e seguindo em frente. Mas não tinha condições de suportar nem a dor física e muito menos a cabeça de depois de 8h não queria seguir. A música também não me ajudava, mas alguém neste momento me guiava. Eu podia escutar: Não pare, siga em frente!!!

O Cerro San Cristóban parecia interminável e para completar a mina angustia o GPS já marcava 80 km e fui informado que ainda faltava mais 5 km até a tão sonhada linha de chegada. É normal essas diferenças de distância e para quem já tinha percorrido aquilo tudo não seriam cinco quilômetros que acabariam comigo.

Já ouvia de longe o narrador anunciando os atletas que estavam chegando nas outras distâncias e a adrenalina começava a subir cada vez mais. Ainda não acreditava que estava na terceira colocação. Parecia um sonho e não queria acreditar até cruzar a linha de chegada.

Fui me aproximando e as pessoas já começavam a aplaudir e o pórtico agora estava a apenas um quilômetro de distância. Minha cabeça agora estava leve e as dores no corpo já não existiam mais diante de tamanha emoção. Cheguei no local de largada e fui recepcionado pelas pessoas que lá estavam. Entrei no local do pórtico e a emoção veio a tona. Uma mistura de felicidade, alegria, emoção tudo junto.

Depois de 9h 46min e 15s cruzava a linha de chegada em terceiro lugar geral. Um sonho alcançado!!!

Busquei neste momento um local isolado... Queria muito ficar um pouco sozinho... Um momento para lembrar de tudo que tinha acontecido na minha vida nos últimos meses onde me empenhei em treinar duro e me dediquei a cada treino pelas madrugadas frias como se fosse o último. Foi uma temporada muito especial onde pude subir bem os volumes de treinamento e consegui treinar sem nenhuma lesão.

Mais do que tudo isso tive a companhia e apoio incondicional das pessoas que estão sempre próximas a mim trocando informações, fazendo com que meus treinos longos se tornassem verdadeiros passeios.

Gostaria de agradecer a todos os meus amigos que estão sempre comigo. Essa conquista é de vocês também que me inspiraram a seguir em frente!!!

A mensagem final que eu deixo de tudo isso é:

Devemos sempre perseguir os nossos sonhos em busca daquilo que o coração diz e nunca aceitar a racionalidade que nossas cabeças.

Um forte abraço a todos e muito obrigado!!!









quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Corpo e mente

Olá Pessoal,

O relógio toca. São 04h15min da manhã. Viro de um lado para o outro, sento na cama. Fico parado por alguns segundos sem saber o que fazer. Vem a sensação de que acabei de deitar. O corpo ainda está cansado. Sei que preciso me levantar. Não encontro forças. Penso, reflito e sigo no modo automático até a cozinha. Faz frio, venta e a cabeça começa a ser bombardeada de pensamentos ruins. É preciso resistir. Tomo o café da manhã, troco de roupa e sigo para mais um dia de treino.

As pernas estão “pesadas”. O corpo não quer reagir. Inicio com um trote bem leve e tudo dói. E muito. Procuro não pensar no momento e começo a viajar nos pensamentos. O dia com céu azul parece um domingo de verão com chuva forte e nuvens escuras. É necessária uma força mental muito maior para seguir. Não desisto. Sigo devagar e com muita paciência dando tempo para que o corpo "acorde".

Depois de algum tempo parece que as coisas começam a se normalizar. O ritmo melhora um pouco e a cabeça parece aceitar sem concordar muito. Falta pouco, mas ao mesmo tempo falta uma eternidade. O sol me aquece e me conforta. Imagino as montanhas, as trilhas e começo a sair do mundo urbano por alguns instantes.

O treino termina e fica a sensação de dever cumprido. O corpo já não tem forças para seguir. O que segue movendo os músculos é a cabeça que ainda tira forças sabe lá de onde e coloca tudo em movimento. Estamos quase lá... E devagar chegaremos longe!!!

Um forte abraço a todos e bons treinos!!!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Parque Nacional do Caparaó - Training Camp

Olá Pessoal,

Na semana passada estive treinando no Parque Nacional do Caparaó - Pico da Bandeira. Foi um feriado muito especial para mim, pois estar nas montanhas me fortalece e me faz esquecer da civilização, computadores, telefones, carros, etc. Neste lugar é apenas você e a natureza, escutando o barulho do vento, das cachoeiras e dos animais.

Cheguei a Alto Caparaó na quarta-feira na hora do almoço. De Belo Horizonte para lá são 330 km com uma estrada que nos lembra bem como o Governo trata aqueles que necessitam das rodovias e pagam seus impostos. Um total descaso. Gastei mais de 5 horas.

Fui direto para o hotel e aproveitei o dia para curtir um pouco na piscina aquecida, dormir um pouco e preparar os equipamentos necessários para iniciar os treinos no dia seguinte. O hotel fica a 1 km da portaria do parque e fui informado de que é necessário pagar uma taxa diária de R$11,00 por pessoa por dia para ingressar no mesmo. Não acho errado pagar taxas, pois isso garante a conservação dos parques, mas neste caso acho que o Parque Nacional do Caparaó poderia ter uma infraestrutura melhor. Nada demais apenas mais indicações das trilhas, informativos relacionados à distância, desnível, etc. para que as pessoas não sejam pegas de surpresa. Fui informado também de que o parque só abre às sete da manhã e isso me deixou um pouco frustrado, pois tinha levado as minhas lanternas de cabeça e tinha a intenção de iniciar alguns treinos pela madrugada.

Nesta época do ano o clima é bem agradável fazendo um pouco de frio à noite e esquentando durante o dia. Como não chove há bastante tempo a umidade estava baixa e em maiores altitudes acaba atrapalhando um pouco.

Para o treino preparei uma mochila com 2 litros de água, alguns sachês de gel, castanhas de caju, amendoim além de alguns equipamentos de segurança como apito, kit primeiros socorros, documento, telefone e uma pulseira de identificação. Como o parque é controlado existe certa segurança no controle de entrada e saída de pessoas além do trânsito grande de caminhantes subindo e descendo a todo o momento. Isso gera uma segurança maior para andarmos sozinhos pelo parque. De toda forma é sempre importante levar equipamentos e mantimentos adicionais como forma de segurança pois o clima pode virar e eventuais imprevistos acontecem e temos que estar preparados.

Com relação às roupas gosto de utilizar calça comprida para proteger um pouco as pernas das escoriações e das possíveis quedas. Uma camisa de corrida normal e um corta vento. Um tênis próprio para trilhas e meias reforçadas para tentar aliviar um pouco a formação de bolhas. Levei na mochila um par de luvas e um gorro como segurança, pois não tinha certeza de como poderia estar à temperatura a quase 2900 m. Acho muito importante as luvas, pois problemas nas mãos irão afetar também a sua alimentação, hidratação e coordenação dos movimentos.

Na quinta-feira acordei cedo, tomei um café da manhã reformado e parti para o sonhado cume do Pico da Bandeira. Sai do hotel correndo em ritmo lento e fui subindo, passei pela portaria, paguei a taxa, documentação e segui morro acima. Os primeiros 7 km são de estrada de terra até chegar ao lugar conhecido como Tronqueira.

 Fui subindo em ritmo controlado e curtindo o visual. A subida é bem dura e o desnível é de aproximadamente 1000m. Existem apenas dois trechos planos e de curta distância. Todo o restante do caminho é em subida. Na Tronqueira é possível chegar de carro e tem uma vista muito bonita. Muitos mochileiros acampam por lá. Durante a subida diversos carros passaram por mim levando caminhantes que partem da Tronqueira rumo ao cume do Pico da Bandeira.


 Chegando à Tronqueira fiz uma parada rápida para tomar um sache de gel, retirar o corta-vento e seguir em frente rumo ao Terreirão distante aproximadamente 4 km.


 Deste ponto em diante a estrada se transforma em uma trilha bastante técnica repleta de pedras por toda a parte. É preciso bastante atenção nas pisadas para evitar escorregões e torções. O caminho segue as margens do Vale Encantado onde águas cristalinas escorrem pelas pedras formando cachoeiras e piscinas naturais. É um trecho muito prazeroso para correr, pois a trilha apresenta trechos técnicos com subidas fortes e vários obstáculos. Durante esse trecho já é possível avistar o Pico da Bandeira ai longe. Bastante imponente em meio às demais formações rochosas. Próximo ao Terreirão é preciso enfrentar uma pequena subida bastante dura.


 O Terreirão é o último ponto onde os montanhistas e caminhantes acampam e serve de base para o “ataque ao cume” que as pessoas fazem ainda pela madrugada visando atingir o Pico da Bandeira antes do sol nascer. Neste ponto a altitude é de aproximadamente 2500m. 


 Chegando ao Terreirão parei mais uma vez rapidamente para me alimentar. Aproveitei para comer algumas castanhas, me hidratar um pouco mais e preparar o corpo e a mente para as subidas mais íngremes e trechos muito técnicos rumo ao Pico da Bandeira. Estava me sentindo bem embora as pernas já dessem sinais de cansaço devido aos 1500m de desnível já acumulado em apenas 11 km. É impressionante o quanto as subidas técnicas desgastam a musculatura.

Deste ponto até o cume do Pico da Bandeira são aproximadamente 3 km de subidas íngremes por pedras com alto grau de dificuldade. Parti lentamente me preocupando em manter um bom ritmo e realizar a técnica correta para subir alterando caminhada e corrida por meio das pedras e subidas. À medida que me aproximava do Pico da Bandeira o visual se tornava cada vez mais bonito, as subidas mais duras e a respiração mais ofegante. O último quilômetro é uma verdadeira escalada e neste ponto tratei de aplicar uma boa técnica de caminhada utilizando as mãos para me ajudar na impulsão. Coloquei novamente o corta-vento e segui morro acima.


 
Depois de 2 horas e 11 minutos atingi o Pico da Bandeira com quase 2900m de altitude. Girei em torno de mim, abri os braços e dei um grito bem forte. Chegava ao terceiro ponto mais alto do Brasil. Não tinha ninguém lá em cima e pude colocar as mãos nos joelhos e ainda ofegante observar as montanhas que cercam o Pico da Bandeira e deslumbrar com aquele visual incrível.



 Sentei e fiquei admirando aquela paisagem enquanto me alimentava e me hidratava já pensando na descida. Foram poucos minutos lá em cima. Ventava bastante e a temperatura do corpo começou a cair rapidamente. Levantei-me ainda um pouco ofegante e iniciei a descida.


 Os primeiros trechos da descida tomei muito cuidado, pois são íngremes e com muitas pedras soltas. Qualquer descuido poderia resultar em uma queda. À medida que descia meu corpo ia se soltando e ganhava mais confiança para aumentar um pouco a velocidade. Correr em descida envolve bastante técnica e a atenção deve ser redobrada em cada movimento. Trechos que demorei muito tempo para subir agora eram superados rapidamente. Para correr em descida é importante não deixar que o corpo acelere muito e evitar grandes saltos que podem ser tornar uma grande alavanca para uma possível torção. O ideal é manter a passada curta e rápida.

Chegando ao Terreirão parei um pouco para me hidratar pois no primeiro trecho da descida fiquei tão concentrado no chão que acabei me descuidando da hidratação e alimentação. As pernas estavam um pouco cansadas pela descida técnica. Segui em frente rumo a Tronqueira.

Este trecho para mim foi o melhor de todos, pois se trata de uma descida técnica, porém com um grau de dificuldade menor é torna-se possível imprimir um bom ritmo e apreciar a paisagem. Fui aumentando a velocidade à medida que descia e ganhava confiança. Passei por várias pessoas neste trecho que olhavam um pouco assustadas a maneira como descia. No Brasil este esporte ainda não ganhou espaço na mídia e não é comum para as pessoas ver corredores de montanha. Espero que isso mude daqui um tempo e que o Pico da Bandeira possa ser um lugar para encontros de corredores para treinos.

Cheguei à Tronqueira bem e com alguns incômodos nas pernas, pois já tinha descido 7 km. Faltava agora o trecho final até o hotel que seria percorrido por estrada de terra. Aproveitei para correr um pouco mais solto e não forçar muito as pernas, pois ainda teria que repetir esse trajeto mais dois dias.

Desci apreciando a vista e deixando que o corpo ditasse o ritmo. Parei em algumas fontes de água para me hidratar e jogar um pouco na cabeça para refrescar do calor que já causava certo desconforto. Foi uma descida tranqüila até a portaria do parque onde fiz o meu registro de sai e segui em direção ao hotel.

Chegando ao hotel tomei um banho rápido para tirar a sujeira e fui direto para a piscina de água fria recuperar as pernas. É impressionante o quanto a água fria ajuda na recuperação muscular. Fiquei 20 minutos que água na cintura e aproveitei para me hidratar e me alimentar. Almocei em seguida e depois nada melhor que uma soneca da tarde. No final do dia fui para a piscina de água quente para relaxar os músculos, jantar e cama novamente para começar tudo outra vez.

Acordei no segundo dia inteiro e percebi a grande diferença que existe entre os atletas profissionais e nós amadores que no dia a dia temos que trabalhar de 8 a 12 horas e ainda treinar. Quando de está por conta do treinamento e recuperação o corpo responde de outra maneira.

No segundo dia fiz o mesmo trajeto. A perda do rendimento foi pequena em relação ao primeiro dia e fiquei muito feliz com o treino. Aproveitei para conhecer alguns lugares do parque que não tinha visitado como o Vale Encantado, Vale Verde e a Cachoeira Bonita. Tudo muito rápido para não quebrar o ritmo do treino.



 No terceiro dia refiz o mesmo trajeto dos dias anteriores, porém decidi ir sem relógio. Sem me preocupar com o tempo, ritmo, freqüência cardíaca, nada além de sentir o corpo e me conduzir através das sensações. Foi muito bom estar ali correndo sem nenhuma referência que não seja o meu próprio corpo me conduzindo morro acima.

Cheguei ao Pico da Bandeira bastante cansado. O desnível acumulado ao longo dos dias agora começava a se mostrar. Para descer fiz uma coisa que não gosto e aconselho as pessoas a não fazer: ouvir música correndo. Estava com vontade de experimentar uma descida técnica com pedras e obstáculos com ritmo. Foi quase um suicídio. O ritmo da música me deixou eufórico e fiz um “down hill” muito forte com uma velocidade alta e consegui imprimir uma técnica muito boa. Passei por vários grupos que subiam o pico e pela cara que faziam eu realmente estava rápido. Em alguns trechos dava para levantar até poeira. Saltava entre as pedras, deixava o corpo derrapar e mais que isso, meu corpo estava em harmonia com aquele ambiente. Me lembrei dos tempo de garoto onde me juntava com meus primos para fazer certas estripulias correndo e saltando por toda parte. Como eu me diverti neste último dia.

No total foram 90 km percorridos em três dias de treino com 7500 metros de desnível acumulado. Tenho certeza que estes treinos me ajudarão muito na preparação final para a Ultra de Los Andes dia 15 de outubro.

 
Agradeço aqui a força que todos me dão e me ajudam a seguir em frente atrás dos meus sonhos!!!


 Um forte abraço a todos!!!