sexta-feira, 4 de junho de 2010

Ironman Brasil - A Prova

Olá Pessoal,

Segue abaixo o texto sobre o Ironman Brasil 2010.

Acordei as 04h00min da manhã e a primeira coisa que fiz foi olhar pela sacada do quarto e ver como estava o mar. Aparentemente estava menos agitado que na noite anterior. Fazia frio e ventava um pouco. Tomei meu café da manhã completo, peguei as minhas coisas e me dirigi para o local do evento. Cheguei ao local da prova as 05h00min da manhã fiz a pintura no corpo do número de inscrição e me dirigi até a área de transição para fazer os últimos acertos na bike. Com muita calma preparei tudo e fui então para a tenda de troca colocar o macaquinho e a roupa de borracha. À medida que o tempo passava o pessoal ia chegando e a agitação aumentava. Em seguida me dirigi ao local da largada e aproveitei para entrar no mar rapidamente para ver como estava a água e fazer um breve aquecimento. O sol começava a dar sinais, porém não tinha nascido ainda.

As 07h00min foi dada a largada e todos correram para o mar. Sem muita pressa fui caminhando e comecei a nadar de forma tranqüila e controlada. Como havia muitas pessoas era impossível ultrapassar e a preocupação maior neste momento era de não apanhar muito. Alguns encontrões são inevitáveis neste momento, porém o mais importante é manter a calma e seguir em frente. O momento de maior tensão aconteceu na primeira bóia onde muitas pessoas se juntaram e foi preciso um pouco de cautela. À medida que a prova avançava o pessoal ia se dispersando e ficava mais fácil o nado. Sai da água dentro do tempo previsto e corri em direção à tenda de troca. Estava me sentindo muito bem. Peguei a sacola onde estava todo o material do ciclismo e fui para a área de transição pegar a bike e iniciar o ciclismo.

Comecei o pedal bem e mantendo um ritmo forte. Procurei ficar atento a hidratação e alimentação desde o início, pois sabia que isso seria fundamental para uma boa prova. Ao final da primeira subida, no km 20, quando fui mudar de marcha para começar a descida ouvi um barulho estranho. A corrente se soltou e trouxe junto com ela o cambio traseiro que acabou se prendendo a roda traseira. Tentei frear o mais rápido possível e em fração de segundos vi tudo ir por água abaixo. Mesmo tentando frear a queda foi inevitável e ao me levantar percebi que o câmbio traseiro tinha quebrado. Fim de prova para mim. Calmamente encostei a bike no acostamento e em um momento de desespero e desilusão comecei a refletir o quanto tinha me esforçado para chegar até ali. Dias e mais dias de treino para terminar assim. Neste momento passou um filme de tudo que fiz até aquele dia e estava vendo o sonho ir embora. Neste momento passou o pessoal do “Staff”. Me perguntaram o que havia acontecido e mostrei para eles o estrago na bike. Percebi que estavam tristes também pelo acontecido e que iriam chamar o carro para ir me buscar. Eu pedi que chamasse o mecânico para que ele me dissesse que não era mais possível continuar. Fiquei 45min esperando e quando ele chegou deu uma olhada em tudo e disse: Temos ainda uma opção. Posso tirar o câmbio traseiro, encurtar a corrente e colocar em uma única marcha e você terá que pedalar os 160 km restantes assim. Vou colocar em uma marcha pesada para você desenvolver no plano e nas subidas irá sofrer.

Naquele momento não pensei duas vezes. Coloquei o capacete, joguei um pouco de água na cabeça, tomei um gel e já me preparei para voltar enquanto o mecânico acabava de arrumar a bike. Assim que ele terminou subi na bike e estava de novo na prova. Sabia que daquele momento em diante tudo seria diferente. A primeira coisa que me veio à cabeça foi agradecer a Deus por ter me dado essa oportunidade de voltar e que iria me empenhar ao máximo para terminar a prova. Comecei a analisar os fatos e traçar uma nova estratégia de prova começando a partir do km 20.

O mais importante era manter o corpo hidratado e alimentado o tempo todo, pois a marcha era muito pesada e não poderia falhar nas subidas. Era preciso andar bem o tempo todo e manter a bike em velocidade para não quebrar. Sabia que não tinha mais marchas leves para momentos de descanso e cansaço então era o momento de manter a cabeça motivada.

Retomei o pedal bem e aproveitei a primeira descida para dar uma embalada e começar a fazer força. Aos pouco fui recuperando algumas posições e passando muita gente. Em todos os postos de hidratação fui pegando água, isotônico, bananas e fazendo força. Nos retornos e nos viadutos eu sofria para retomar a velocidade da bike, onde tinha vento contra também. Na volta para Jurerê encontrei a primeira subida pela frente. Fiz um pensamento positivo, fiquei de pé na bike e fiz força, muita força. No começo da subida ia bem, mas ao final a perna queimava de dor e a velocidade caia para 10 km/h. Era preciso subir em zig-zag para chegar ao topo. E assim foi ao longo do percurso. Após completar a primeira volta a perna e as costas já começavam a incomodar. Evitei pensar nisso e segui em frente. São nestes momentos que temos que ter pensamento positivo e nos mantermos motivados. Pode ser a glória ou o fracasso e isso depende de nós.

Na segunda volta fui administrando o esforço, pois sabia que as subidas no final do percurso iriam minar as minhas forças. Evitei pensar na corrida, pois ainda era incerto se chegaria até lá. A única coisa que me passava pela cabeça era me manter hidratado e alimentado para terminar os 180 km. Segui em frente e fui recuperando posições. Quando avistei a última subida, respirei fundo e pensei: É agora ou nunca. Fiquei de pé e comecei a fazer força. No meio da subida as pernas começaram a falhar e comecei novamente um zig-zag. Quando cheguei ao topo não acreditei e neste momento comecei a perceber que era possível terminar a prova. Segui em frente e então comecei a pensar na próxima etapa: a maratona. Sabia que as pernas já não eram as mesmas e que a corrida seria sofrida. Mais do que o previsto. Entrei em Jurerê com muita felicidade, soltei o pé da sapatilha e desci da bike com uma mistura de dor e felicidade. Quando coloquei o pé no chão senti a dor de verdade. Fui andando até a tenda de troca, peguei a sacola de corrida e sentei na cadeira.

Respirei fundo, joguei água nas pernas, troquei de roupa e sai para correr. Se ficasse mais tempo ali a dor só iria aumentar. Comecei a corrida devagar e fui encaixando o ritmo aos poucos. Comecei a me sentir bem de novo e segui em frente. A cada passada que dava sentia a linha de chegada mais próxima. Não consegui imprimir o ritmo que planejei, mas a prova já tinha mudado para mim desde o km 20 da bike e o mais importante era terminar.

Nas subidas mais fortes de Canasvieiras tive que andar um pouco para aliviar a dor. Fui controlando o ritmo, o cansaço e a dor e segui em frente parando em todos os postos para comer e me hidratar. Completei a primeira volta (21 km) bem e com aquela pulseira no braço me senti mais motivado ainda. A segunda volta (10,5 km) foi tranqüila e na terceira já estava nas nuvens. Quando entrei na Avenida Búzios pela última vez não acreditei. Corria solto e com a felicidade no rosto.

Depois de 11 horas, 34 minutos e 48 segundos cruzei a linha de chegada. A felicidade era muito grande para quem viu o sonho ir por água abaixo.

Enquanto existir uma chance, mesmo que seja mínima, temos que batalhar e lutar e não se entregar nunca, pois só assim superamos nossos limites.



Gostaria também de deixar aqui os meus agradecimentos a todos que de alguma maneira contribuíram para esta minha conquista, em especial:

À Academia de Corrida da Alta Energia que vem apoiando nos treinos e eventos;

À Proativa que vem me apoiando com materiais esportivos;

Ao treinador João Paulo pelos ensinamentos e acompanhamento ao longo deste tempo que com certeza foram fundamentais para minha conquista. Espero que essa parceria continue por muito tempo;

Ao fisioterapeuta Raphael Marques pelos treinamentos funcionais e acompanhamento ao longo deste tempo. O cara é fera;

Ao nutricionista Fabiano Kenji pelo acompanhamento e preparação nutricional ao longo deste tempo. Sensacional nas dietas para provas;

Ao amigo Petrus que esteve comigo nos treinos e nos momentos difíceis de preparação. Fala comigo!!!;

Ao grupo da TriMinas, TriRio e TriGaucho onde pude compartilhar experiências e aprender um pouco mais.








Um forte abraço a todos e bons treinos!!!

Léo Freitas

5 comentários:

  1. Parabéns Leo pela conquista!!! Muito bacana a sua perseverança em cima das dificuldades que o Iron pode proporcionar. Que legal que está com patrocínio da Proativa!!! Sou responsável pela organização do XTerra Series - Terê Adventure e este ano o Kiko nos deu uma força através da Deuter. No próximo ano quero ver vc competir e representar a marca aqui, ok. Querendo ver o meu relato do Iron que fiz em 2003 www.avonironman.com.br clica em: Eu fui!!!
    Abs!!!
    Marcos Juliano Pereira

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  2. Valeu Leo! Fico muito feliz de ter acompanhado sua evolução e a concretização do sonho. Você é um grande exemplo de determinação e dedicação.
    Sua prova mostra que para nos tornamos um Ironman precisamos de um equilibrio fisico e mental.
    Quantas madrugadas de Domingo, 6horas de rolo, 16 voltas no percurso de 10km do Trofeu Brasil, treinos sozinho. Parabéns pela superação!

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  3. Apesar de não nos conhecermos, já o adimiro pela persistência e força de vontade, ainda estou muito longe de atingir o nível de um atleta, mas os exemplos como o seu são realmente motivadores.
    Parabéns!!!
    Abraços
    Guto Spinola

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  4. MUITO GUERREIRO, PARABÉNS PELA PROVA!!!!
    ANDRÉ.

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  5. Fala Leo...legal que retratou aqui em Palavras o que viveu....um grande exemplo do espirito de um verdadeiro Iron Man...YOU ARE ONE!!

    agora e a ultra...depois manda o link para eu ver..

    Parabens mais uma vez...

    abracos....cristiano

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